No penúltimo dia da Missão Internacional do Transporte – Japão 2025, o destaque foi o seminário “O papel do Brasil na transição energética e o futuro da mobilidade sustentável”, realizado na última sexta-feira (23), no Pavilhão do Brasil, durante a Expo 2025. Organizado pelo Sistema Transporte (CNT, SEST SENAT e ITL) em parceria com a ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), o evento levou à exposição universal um dos temas mais relevantes da atualidade: a transição energética e a descarbonização do transporte.
O seminário foi dividido em dois momentos. Na mesa de abertura, autoridades presentes abordaram brevemente a temática, compartilhando ações em curso em suas respectivas instituições.
A primeira fala foi da anfitriã Ana Paula Repezza, diretora de Negócios da ApexBrasil, que deu as boas-vindas à comitiva brasileira e elogiou o engajamento do setor. “Foi uma semana intensa, com muitas atividades em sala de aula e na Expo. Acompanhei parte da programação e vi o quanto os empresários se dedicaram a aprender. Parabenizo a todos pela iniciativa de discutir o transporte aqui, no Japão”, destacou.
Representando o Sistema Transporte, o presidente Vander Costa reforçou o posicionamento institucional em relação à transição energética. “Não existe uma solução única para todos os cenários. Quando estivemos na Alemanha, a aposta era no hidrogênio, mas essa alternativa já foi descartada por lá, devido ao alto consumo de energia elétrica necessário para sua produção”, explicou.
Vander Costa ressaltou que o Brasil, por sua dimensão continental, conta com diversas matrizes energéticas com potencial de abastecer o setor. Para ele, a definição da melhor fonte deve levar em conta as características regionais. “Temos defendido o uso do metano, não só porque retira gases nocivos da atmosfera – o que é ambientalmente positivo –, mas também porque já é utilizado na lavoura brasileira, o que demonstra sua aplicabilidade”, observou.
Ele também apresentou um dado expressivo para o debate: um carro chega a poluir até 40 vezes mais do que um ônibus, devido à baixa ocupação. “O fortalecimento do transporte coletivo é essencial para reduzir o número de veículos individuais nas ruas. Mas isso só será possível com investimentos em previsibilidade, estrutura tarifária e conforto para o passageiro”, concluiu.
Autoridades em defesa do transporte
Na sequência, o secretário nacional de Mobilidade Urbana, do Ministério das Cidades, Denis Andia, abordou as ações do governo federal, destacando o programa Refrota, voltado à renovação da frota. “É uma iniciativa que considera tanto a eletrificação – com infraestrutura de recarga e capacitação da cadeia – quanto a redução das emissões de poluentes, em uma etapa intermediária”, explicou.
O senador Veneziano Vital do Rêgo reforçou a importância do diálogo entre empresários e parlamentares em pautas relevantes para o desenvolvimento nacional. Segundo ele, a Missão proporcionou um conhecimento aprofundado sobre o setor. “Entregamos recentemente o novo Marco Regulatório do Transporte Público Coletivo, aprovado pelo Congresso. O presidente Vander teve papel importante nesse processo, contribuindo com sugestões e aprimoramentos”, disse.
O vice-presidente do Senado Federal, Eduardo Gomes, destacou o aprendizado proporcionado pela Missão e reafirmou seu compromisso com a pauta do transporte. “Volto ao país preparado para atuar em defesa do setor. Aprendi muito sobre o transporte do Japão, mas aprendi ainda mais sobre o transporte brasileiro, convivendo com os empresários aqui presentes”, afirmou.
Encerrando a participação das autoridades, o presidente do TCU (Tribunal de Contas da União), ministro Vital do Rêgo, compartilhou dados sobre a transição energética brasileira. “Cerca de 83% da energia produzida no país já é limpa. Somos o terceiro colocado entre os países do G20 em uso de fontes renováveis”, destacou. Ele elogiou o compromisso do setor com a sustentabilidade: “É inspirador ver os empresários do transporte assumindo o protagonismo na descarbonização, por meio da adoção de tecnologias e práticas inovadoras”.
Painel de debate
A etapa técnica do evento reuniu representantes de diferentes segmentos do setor para compartilhar experiências e estratégias. Com a mediação de Lucas Brandão, coordenador de Relações Institucionais e Governamentais da ApexBrasil, o painel abordou temas como biodiesel, combustíveis verdes e o SAF (Combustível Sustentável de Aviação).
Representando os empresários, Ana Carolina Medeiros, presidente da Taguatur, falou sobre ações sustentáveis, como a manutenção preventiva das frotas, aposentadoria de veículos antigos e programas de conscientização de colaboradores.
Roberto Zampini, da Imediato Nexway, trouxe a visão do setor de cargas. Ele destacou a importância de mensurar as emissões de CO2, controlar os resíduos e adotar estratégias de redução com base em dados.
Roberto Braun, da Toyota, defendeu o híbrido flex como solução de baixo carbono e ressaltou o potencial de exportação da tecnologia brasileira. Já Vinicius di Nucci, da Embraer, falou sobre o desenvolvimento do eVitol – veículo elétrico urbano que será lançado nos próximos meses – e o papel do SAF na aviação sustentável.
Edson Goto, do Sindipeças, apontou que o Brasil, com uma matriz energética diversificada, já é exemplo em energia limpa. Segundo ele, carros a etanol ainda são mais sustentáveis do que muitos elétricos usados em países desenvolvidos.
Visita aos pavilhões
Pela manhã, os participantes da Missão visitaram novos pavilhões da Expo. O primeiro foi o Future City, que reúne tecnologias voltadas à Sociedade 5.0 – conceito japonês que busca integrar inovação, bem-estar e sustentabilidade.
Na sequência, conheceram o pavilhão da Suíça, que mistura tradição cultural com robótica avançada. Uma das atrações mais comentadas foi a demonstração de inteligência artificial capaz de criar deepfakes em tempo real.
A experiência reforçou o papel do Brasil não apenas como consumidor, mas também como agente ativo no desenvolvimento de soluções sustentáveis e tecnológicas para o transporte global.
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